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Hoje Notícias - Política - Dia 09/12/2009

 

 

Venceslau Pimentel

Dois dias depois de ter recebido alta hospitalar, e ainda convalescendo de duas cirurgias a que foi submetido há seis dias, o prefeito Iris Rezende (PMDB), mesmo visivelmente abatido, mostrou que não perdeu sua verve de articulador político antenado com os acontecimentos em Goiás e no País.

Em entrevista à imprensa, concedida ontem pela manhã em seu gabinete, no Paço, Iris reafirmou que não descarta disputar o governo nas eleições de 2010; contestou pesquisas eleitorais que colocam o PMDB com baixo percentual de intenções de voto no Entorno de Brasília; classificou como vergonhoso o episódio que envolve o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), no esquema de desvio e distribuição de recursos públicos; e rechaçou relatório do TCE sobre venda de Corumbá I.

Contrariando os prognósticos de que, com a saúde abalada, desistira de disputar o governo em 2010, o prefeito disse ter disposição para uma eventual campanha. "Eu sempre tive (disposição), mas não quero discutir essa questão sobre hipóteses", frisou. "A minha disposição vem desde menino e até hoje é muito grande. Eu reconheço isso. Tenho disposição sempre para trabalhar muito e trabalhar mais".

Mas ao contrário do que vinha defendendo, Iris recuou e admite adiar para janeiro do ano que vem a definição do nome do PMDB ao governo. Ele defendia a escolha até o fim de dezembro. "O processo está caminhando normalmente. Nós não vamos limitar 31 de dezembro (como prazo-limite). Mas se não acontecer até lá, nos primeiros dias de janeiro o partido já estará com uma posição definida", ponderou.

Como forma de justificar essa flexibilidade, ele avaliou que a legenda tem uma grande responsabilidade perante a sociedade, e que, portanto, não pode levar a sucessão estadual "com a barriga, com artimanhas". "Ele (o processo eleitoral) tem de ser claro, verdadeiro. Tem de partir no tempo certo, colocar à apreciação do povo os nomes".

Quando indagado se seria o candidato natural do PMDB, limitou-se a dizer que o nome dele está exposto, mas que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também está no páreo. "É um partido rico em nomes com condição de enfrentar as próximas eleições", aposta.

Uma eventual vitória do PMDB viria, segundo o prefeito, inclusive no Entorno do Distrito Federal, onde as pesquisas estariam apontando uma baixa intenção de votos do eleitorado local. Mas o prefeito não acredita na veracidade desses levantamentos. "O PMDB não tem dificuldade no entorno, não. Não tem. Isso é onda que se cria", reagiu.

Mesmo que esses os percentuais condizessem com a realidade, o seu desempenho já seria satisfatório. "É porque vai (um instituto de pesquisa) lá (no entorno), faz uma pesquisa (que aponta que), fulano tem 60% (das intenções de voto), o Iris tem 20%. Mas faz seis anos que eu não piso em nenhum município do entorno", sustentou.

De qualquer forma, o peemedebista avalia que a densidade eleitoral atribuída a ele nas pesquisas é resultado dos que trabalharam nos governos do partido ou que acompanharam os mandatos. E fez uma previsão: "A hora que nós botarmos os pés numa campanha para governador, no entorno, as coisas vão mudar. Não tenho duvida disso, não".

"PMDB não baixaria a cabeça no entorno"

Iris Rezende mostrou-se indiferente quando indagado se o escândalo envolvendo o governador José Roberto Arruda favoreceria o PMDB na disputa por votos no Entorno de Brasília. "Com escândalo, sem escândalo, o PMDB não baixaria nunca a cabeça no entorno. E eu tenho certeza que qualquer nome que o PMDB realizar vai retirar dali uma grande votação", aposta.

Segundo ele, a população daquela região anda desestimulada diante da falta de investimentos na infraestrutura dos municípios. Sobrou até para o governo federal, que, para o prefeito, não tem injetado os recursos financeiros no entorno, mesmo sabendo que os problemas, pelo menos em parte, foram criados por Brasília. "Mas, no entanto, não investiram aquilo que o governo federal devia investir ao longo de tantos anos".

Iris não citou o nome do governador do Distrito Federal, mas não poupou críticas diante dos fatos divulgados pela imprensa. Considerou o caso lamentável. "Como político, me senti envergonhado, como político me senti realmente frustrado, porque isso não atinge um homem, mas a classe política, que precisa dispensar mais respeito ao povo".

Para ele, o povo não merece isso. "Tanta gente pega cargos e quer fazer do cargo um balcão de negócios, arrumar a vida, e, ao povo, bananas", disse, indignado. "Isso tem de acabar, e o mundo político precisa acordar para essa realidade. Se não mudar o comportamento, daqui uns dias político não vai poder sair à rua".

Por fim, disse que vê fatos como esses com tristeza e piedade "daqueles que assumiram o poder e não tiveram a consciência necessária do papel que estava entregue em suas mãos".

Venda seria necessária

Iris Rezende contestou relatório que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) entregou à CPI da Celg, de que há discrepância na operação  de transferência da usina de Corumbá I para Furnas, em convênio iniciado em 1984 e concluído em 1986. Pela análise preliminar, o valor seria de US$ 4 milhões.

A informação deixou o prefeito exaltado. Para ele, trata-se de um caso folclórico. "Querem encobrir, segundo consta, o que se via e se vê pelos jornais, uma verdadeira farra durante sete anos com recursos da Celg", reagiu, justificando que a venda da usina se deu porque, ao assumir o governo (em 1983), a obra estava paralisada há um ano e tinha apenas um canteiro de obras.

"Nós apenas fizemos uma transação com o Ministério de Minas e Energia, construiríamos a quarta etapa de Cachoeira Dourada e o Ministério de Minas e Energia ficaria com Corumbá I. Gastaram R$ 1 milhão lá, paralisaram as obras, e o Estado não daria conta (de concluí-la)", afirmou.

Para o prefeito, não se pode comparar a venda de Corumbá I com a crise na Celg. "Quer dizer, isso é querer enganar a população. Isso é falta de respeito com a população quando vem falar uma coisa dessas. Eles que se expliquem onde colocaram o dinheiro da Celg, fazendo campanha de publicidade quando a Celg não tem concorrente".