Sinjufego

Tribuna do Planalto - Política - De 13 a 19 de dezembro de 2009

 

Lis Lemos - Estagiária Convênio Tribuna/UFG

 

Depois de sofrer ataques da oposição e também dos tucanos, que teoricamente ainda estão na sua base, o PP do governador Alcides Rodrigues respira aliviado nesses últimos dias de 2009. Pelo menos na Assembleia Legislativa. Apesar das inúmeras discussões entre governistas e marconistas - e das especulações de que o PSDB pretende dificultar a vida do governador Alcides Rodrigues (PP) nos próximos meses -, o clima tem sido de cooperação para votar os projetos, encerrar os trabalhos e começar as articulações para 2010. Por outro lado, a histórica briga entre tucanos e peemedebistas se acirrou, tanto nos discursos da tribuna quanto na troca de farpas nos bastidores.

Embora algumas sessões ordinárias tenham sido esvaziadas, os projetos em trâmite na Comissão Mista e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foram votados em prazo hábil. No plenário, temas de maior polêmica e que provocaram os discursos mais acalorados giraram em torno da CPI da Celg e da nova composição de forças que emerge na Assembleia.

Os deputados tucanos negaram durante toda a semana que exista qualquer diretriz da legenda para boicotar as votações dos projetos do Palácio e afirmaram que o partido continua na base de apoio ao governador. O presidente da casa, Helder Valin (PSDB), diz que não há um posicionamento de bancada. "Não precisamos usar subterfúgios para que os deputados mostrem suas posições", explica o deputado, que aproveita para criticar os adversários. "Todas as vezes que tem projetos polêmicos para serem votados, o PMDB se ausenta, não coloca a cara a tapa, ao contrário da base aliada", alfineta Valin.

Precaução

Os deputados do PP vêm se movimentando para fazer uma costura conciliatória com os outros partidos para não prejudicar os interesses do governo. Os pepistas Ozair José e Evandro Magal, líder do governo, concordam que a ausência dos deputados tucanos, na última semana, durante votações na Casa, foi uma casualidade, e não algo planejado, como acusou o deputado Luís César Bueno (PT). "Acima de qualquer questão partidária, tem o compromisso com o Estado", declarou Magal. O ex-tucano afirmou, ainda, que o governador "tem uma boa relação com a oposição".

A líder do PMDB, Mara Naves, garantiu que o partido faz uma "oposição propositiva e construtiva", mas que tem um "compromisso com a governabilidade". No entanto, a deputada vê que o clima de disputa entre as forças está apenas começando na Assembleia.

Há deputado tucano que ironiza e diz não saber mais quem é oposição e quem é situação na Casa, devido às novas forças que vêm surgindo. Melhor para o PP, que com PSDB e PMDB se digladiando pode trafegar livremente pela Assembleia e aprovar os projetos do governador, com o apoio de outros partidos que agora suavizam seus discursos sobre o Palácio.

Celg

Depois que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) divulgou aos membros da CPI da Celg o relatório preliminar sobre a dívida da empresa, que mostra déficit de mais de 4 milhões de dólares entre os anos de 1983 e 1990, o clima entre PMDB e PSDB, representados por José Nelto e Daniel Goulart, ficou nebuloso. Ambos subiram à tribuna para trocar acusações sobre o rombo nos cofres da companhia.

José Nelto criticou o relatório dos técnicos do TCE que, segundo ele, estão a serviço do PSDB. "Tem conselheiro servindo seu ex-patrão (Marconi Perillo) e não vamos aceitar que essa corte seja usada para bater no PMDB", afirmou o deputado, que classificou os documentos apresentados pelo TCE de "fajutos". Ele afirma que vai procurar o Ministério Público e até a Polícia Federal para garantir que o trabalho do Tribunal seja isento.

A deputada Mara Naves evitou polemizar com o colega de legenda, mas afirmou que confia no trabalho feito pelos técnicos do TCE. O presidente da comissão, deputado Helio de Sousa (DEM), defendeu o trabalho do TCE, afirmando que "houve apenas uma apresentação lógica dos dados".

 

O deputado Humberto Aidar (PT), relator da CPI, concorda com Helio, mas acredita que a dívida da Celg é responsabilidade de todos os governos. "O déficit encontrado desse período é do PMDB, mas todos os governos tiveram problemas e isso vai aparecer na CPI". Segundo ele, a disputa entre PMDB e PSDB é antiga e deve continuar após a conclusão dos trabalhos da CPI. A previsão é que o relatório final seja entregue somente em 2010. Aliás, esse deve ser um importante instrumento político para as próximas eleições.

 

Análise 

Casamento por conveniência

Elizeth Araújo

Na Tribuna da Assembleia e em declarações públicas lideranças partidárias do PSDB e do PP  falam de paz e união mas, nos bastidores, segue uma guerra fria e surda entre os dois grupos, com ataques e contra-ataques dignos do confronto EUA X URSS. O PP do governador Alcides Rodrigues tem a caneta na mão. Pode quase tudo. Em oito anos de poder, o  PSDB, do senador Marconi Perillo, construiu um mini-império. Tem aliados, ligações fortes e ramificações em praticamente todas as instituições dos três poderes. É uma briga de gigantes.

A maioria dos deputados e dos aliados do quase 'ex-tempo novo' gostaria de estar fora dessa briga. Mas as desavenças se acumularam. Vêm de longe com pequenos, médios e grandes conflitos entre as partes. O casamento está preso por dois fios: governabilidade/sucessão 2010. O governador Alcides Rodrigues precisa garantir sustentação em seu último ano de administração, sobretudo, porque terá de gastar com competência os R$ 4 bi festivamente anunciados na semana passada. Os deputados precisam da máquina governamental para viabilizar suas candidaturas.

No casamento, por enquanto, mantido por conveniência, alguns tucanos continuam os ataques e outros correm com o extintor. No governo, pepistas e aliados mais exaltados cobram a demissão sumária dos tucanos, mas o governador Alcides segue uma prática de 'dar o troco' a conta-gotas. Todos agem com cuidado para não perder terreno e deverá ser assim até março do ano que vem.  A guerra fria agora chegou definitivamente ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Quem sabe o recesso natalino não esfrie os ânimos, afinal, como os agentes políticos sempre dizem: os interesses de Goiás estão em primeiro lugar!