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O mundo esperava que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que chegou ontem à capital da Dinamarca, fizesse a diferença e destravasse as negociações entre os 190 países presentes na Conferência do Clima, salvando o encontro do fracasso absoluto. Mas foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que fez valer a alcunha ganha do colega americano que, no início do ano, declarou: "Lula é o cara".

A reportagem é de Chico de Gois, Deborah Berlinck e Roberta Jansen e publicada pelo jornal O Globo.

 

Nos cerca de 15 minutos de discurso para uma plenária lotada, Lula, que falou de improviso, mas sem recorrer a metáforas, como é de costume, foi objetivo ao criticar a intransigência dos países ricos, afirmando que o que estava em jogo não era uma barganha, mas o futuro do planeta. Foi interrompido em quatro ocasiões pelos aplausos da plateia - até mesmo jornalistas de outros países que cobriam o evento bateram palmas em duas ocasiões.

Obama, que falou depois de Lula, foi ofuscado. Suas declarações - e ações - soaram como arrogantes. Ele só permaneceu na sala com os demais chefes de Estado enquanto falava. Foi timidamente aplaudido e, depois, retirouse, sem ouvir os demais.

Brasil está disposto a 'sacrifício a mais', diz Lula Lula iniciou seu discurso dizendo que se sentia frustrado por perceber que um acordo final estava cada vez mais difícil.

Surpreendendo até mesmo a delegação brasileira, anunciou que o Brasil estaria disposto a colocar recursos no fundo verde internacional, que financiará a adaptação dos países mais pobres às mudanças climáticas.

A entrada do Brasil no fundo vinha sendo rechaçada pelo governo brasileiro até então.

- Se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro também para ajudar os outros países - disse Lula, para depois completar:

- O que nós não estamos de acordo é que as figuras mais importantes do planeta terra assinem qualquer documento, para dizer que nós assinamos documento.

Mas deu a entender que tinha pouca esperança de um acordo.

- Como eu acredito em Deus, eu acredito em milagre, ele pode acontecer, e quero fazer parte dele - disse Lula.

Depois de Lula, Obama subiu ao palco para fazer um discurso muito esperado, mas que se revelou frustrante. Ele não ofereceu nada de novo e se limitou a dizer que era necessário sair da convenção com um acordo, por mais imperfeito que fosse.

- Agora não é hora de falar, mas de agir - declarou, insistindo que os países em desenvolvimento aceitem ter suas metas verificadas, o que encontra resistência.

Obama disse que a questão era saber se os países avançariam juntos ou separados, dando a entender que os EUA caminhariam sem compromisso com os demais. À tarde, quando chegou para a reunião com o Basic (grupo formado por Brasil África do Sul, Índia e China), Obama dirigiu-se a Lula:

- Deixe-me sentar ao seu lado.

Segundo participantes da reunião, a toda hora Obama olhava o relógio, dizendo que tinha de sair para voar de volta aos EUA.

A postura de Lula em Copenhague repercutiu até no Brasil.

 

O governador de São Paulo, José Serra, possível candidato do PSDB à sucessão de Lula, elogiou o presidente:

- Queria cumprimentar o presidente Lula pela decisão de o Brasil aportar recursos no fundo de financiamento de combate ao aquecimento global.

O Brasil originalmente não estava disposto. O presidente revisou essa posição e a participação brasileira vai estimular que os países desenvolvidos participem mais.