Sinjufego

Diário da Manhã - Política e Justiça - Dia 03/01/2010

 

 

Presidente da Agecom, Marcus Vinícius, governador Alcides e secretário Braga na TV Serra Dourada

 

No campo político, pepista deve consolidar Nova Frente e afastamento de tucanos. Administrativamente, promete obras e fim da crise da Celg. Para grande parte das pessoas, o significado da passagem de ano limita-se ao simbólico. Hora de renovar, reestruturar planos. Usualmente, porém, os primeiros dias do ano alertam para a irremediável sequência do curso natural das coisas, poucas vezes modificadas pela alternância de dígitos na folhinha. No campo político, contudo, a chegada de 2010 deve representar a efetiva consolidação de novo cenário sugerido pelo governador Alcides Rodrigues (PP) durante todo o ano passado.

Há cerca de três anos, Alcides sinaliza para reconfiguração das forças políticas do Estado, com o desfacelamento do chamado Tempo Novo em razão do rompimento de PP e PSDB. Mas foi em 2009 que os sinais ganharam contornos mais sólidos. A gestão de Alcides viveu ano marcado por expectativas administrativas e políticas. No ano que terminou, o governador reforçou projeto de trilhar caminho alternativo à parceria com tucanos e deu fôlego à espécie de "alforria pepista" com da chamada Nova Frente.

DEM, PR e PSB, até então parte do Tempo Novo, aderiram à empreitada de Alcides de lançar candidato que enfrente PSDB e PMDB nas urnas e altere o tradicional embate polarizado em Goiás. Ainda que pesquisas apontem eventuais candidatos da Nova Frente com pouca popularidade, não há como considerar inócua candidatura lançada pela máquina estadual. Em novembro, o anúncio à imprensa de reuniões dos presidentes dos partidos com o governador no Palácio das Esmeraldas retirou as negociações do esboço. Estava evidente o interesse do grupo de ratificar publicamente a construção de nova força em oposição a peemedebistas e tucanos.

Enquanto a relação de Alcides com o prefeito de Goiânia é cada vez mais próxima (Iris é figura constante em eventos do governo), o senador Marconi Perillo (PSDB) reclama de sequer ser convidado para inaugurações de obras, que diz ter iniciado em sua gestão. O governador responde dizendo que, "no momento certo", justificará a distância. 2010, portanto, promete ser o ano em que o rompimento de Alcides com Marconi migrará das especulações para o fato. Apesar dos discursos sugestivos, alfinetadas e troca de declarações hostis entre aliados de Alcides e Marconi, falta a afirmação definitiva de distanciamento dos protagonistas da história.

Ambos têm intensificado discurso mais duro, mas ainda mantêm postura ponderada sobre as animosidades, pelo menos em comparação com aliados que têm sido porta-vozes da briga. No entanto, fatos mais palpáveis que discursos ratificam a separação. Leva de políticos ligados a Marconi Perillo deixou a administração e, neste ano, a intenção é de "limpar" o governo Alcides de tucanos e aliados. A tese já foi abertamente defendida pelos deputados Sandro Mabel (PR), Ronaldo Caiado (DEM) e pelo secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PP) - todos cotados para ser o candidato ao governo da Nova Frente.

Ao se filiar ao PP, em setembro de 2009, Braga investiu no figurino de possível candidato do bloco palaciano. No estilo "não sou candidato, mas aceito ser", o secretário liderou o embate. Abriu a "caixa-preta" das dívidas que o governo pepista afirma ter herdado do antecessor, levantou a bandeira do "deficit zerado", declarou repúdio ao "estilo irresponsável dos tucanos" administrarem.

Estava declarada a guerra, respaldada pelo presidente regional do PP, o secretário de Infraestrutura Sérgio Caiado, que, em maio de 2009, assegurou que o PP teria candidato ao governo e, no fim do ano passado, classificou como "inviável" reaproximação da legenda com o PSDB. "Como nos aliar com quem nos processa?", questionou, referindo-se à ação que o PSDB apresentou à Justiça sob argumento de que a visita do presidente Lula (PT) a Goiás, em agosto, organizada pelo governo, foi usada com intenções eleitoreiras.

O questionamento de Sérgio Caiado foi o mesmo utilizado pelo governador, que reclamou das ações de tucanos contra o PP. A recíproca, porém, é verdadeira. Os dois partidos entraram com ações judiciais um contra o outro em 2009: 12 no total. Destaque para polêmica causada pela cobrança do PSDB na Justiça pelos mandatos dos deputados estaduais Evandro Magal e Laudeni Lemes (não mais deputada) em razão da filiação de ambos, anteriormente tucanos, ao PP. A intolerância do PSDB à filiação de seus ex-membros à sigla do governador só corroborou que há muito as siglas haviam deixado de ser "irmãs". Outro fato determinante foi a saída do deputado federal Roberto Balestra (PP) do governo, em outubro - era secretário de Articulação Política. Ele era o único pepista da cúpula palaciana que defendia em público a união da base.