Diário da Manhã - Economia - Dia 21/11/2009
Remuneração de assalariado branco é até 90,7% maior. A remuneração média de trabalhadores brancos foi 90,7% maior que a de negros e pardos em setembro, último dado disponível, aponta estudo do economista Marcelo Paixão, baseado na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, que reúne dados sobre as seis maiores regiões metropolitanas do País. Desde o início da crise econômica, o auge da desigualdade entre os dois grupos no mercado de trabalho tinha sido registrado em fevereiro, quando a renda dos brancos era 102% superior.
Estatísticas revelam que negros recebem menos que brancos. A remuneração para os negros foi 90,7% menor que para os brancos no último mês, segundo pesquisa do IBGE. “Qualquer queda de desigualdade é para ser comemorada. O que não se pode é ser exagerado no grau de otimismo, porque não vejo nos indicadores motivos para supor que esse ritmo de redução da desigualdade vá se manter nos próximos meses”, diz Paixão.
Em setembro, a maior desigualdade foi registrada na região metropolitana de Salvador, onde a remuneração dos brancos era 136% maior que a de negros e pardos, seguido por Recife (96,5% maior), Rio (96,1%), Belo Horizonte (95,3%), São Paulo (91,5%) e Porto Alegre (51,9%). No conjunto das seis regiões metropolitanas, a taxa de desemprego das mulheres negras e pardas foi de 11,2%, mais que o dobro da taxa dos homens brancos (5,3%).
Segundo Viviane Teles, psicóloga da PUC Goiás e consultora em Recursos Humanos, é perceptível a diferença salarial entre os dois grupos. Negros recebem menos que brancos, assim como o salário dos homens ainda é maior que o das mulheres. Homens são preferidos a mulheres pelo mercado de trabalho por terem maior disponibilidade de tempo. Não têm atividades domésticas nem filhos, e em geral são mais disponíveis para vigens.
Quanto à cor, a psicóloga afirma que o fator para que os brancos tenham mais oportunidades é a qualificação. Comparando currículos analisados, ela percebe que pessoas brancas têm, em média, de 4 a 5 anos de escolaridade a mais que pessoas negras. Mas afirma que se o profissional for qualificado, não há distinção em nível de recursos humanos.
Cotidianamente pessoas enfrentam situações relacionadas a cor da pele. Ao Brasil, falta discutir a questão, diz Luciene de Oliveira Dias, jornalista e professora universitária em Goiânia. Para ela, a pergunta a ser feita não é se há racismo no país. Está provado que sim. Defende que são necessárias discussões sobre o assunto, com etapas a serem cumpridas e superadas. “A sociedade brasileira não admite que é racista. Enquanto houver negação da situação, os questionamentos continuarão procurando provar que o racismo não existe”, enfatiza.
A jornalista declara que a área em que trabalha torna-se complicada por se basear em fenótipos. E diz enfrentar problemas desde o início da atividade profissional. No início, lembra, fez um teste para determinada função em que não havia concorrência, mas não foi aprovada. Quem aplicava o teste, diz, justificou-se dizendo que o motivo seria a blusa que usava.
“O racismo no Brasil não é direto. Aparece disfarçado nas relações sociais diárias. A cor da pele é enfatizada em intenções de inferiorização do outro”, pontua.
Exclusão
Se a sociedade precisa de normas e estatutos que garantam os direitos de determinada minoria, seja qual for, Viviane confirma que há exclusão referente àquele grupo, diz. Para ela, a sociedade brasileira ainda é, de fato, preconceituosa. Mas o preconceito não ocorre só no Brasil. De acordo com a linha de pesquisa seguida pela psicóloga, este é um aspecto da evolução humana. No continente africano, de maioria negra, há preconceito racial.
Para corrigir a situação, Viviane acredita que políticas públicas devem ser formuladas e que o governo precisa investir em pesquisadores. São necessários, diz, estudos de campo que comprovem o que é dito com números. A partir daí, ressalta, políticas públicas e estatutos podem ser criados.
Jornada semanal revela preconceito
Desigualdades entre negros e brancos no mercado de trabalho reduziram de 2004 a 2008, segundo o Dieese, para seis regiões metropolitanas brasileiras. De modo geral, números apontam maior inserção no mercado e crescimento real da renda em proporção maior que a dos brancos.
Um dos indicadores é o aumento da participação de negros em postos de direção, gerência e planejamento. Em Salvador, o percentual se manteve estável e no Distrito Federal caiu. Apesar da melhoria da inserção, alguns indicadores não avançaram. Um deles é a jornada de trabalho, que permanece maior para os negros e pardos na comparação com os brancos. Dados apontam jornada de trabalho mais intensa para negros nas seis regiões.
Em Belo Horizonte, a jornada média semanal dos trabalhadores negros é de 41 horas e a dos brancos de 39 horas. A diferença também foi registrada em Recife, onde os negros trabalham 45 horas semanais e os brancos 43 horas. No Distrito Federal e Salvador, a jornada é de 42 horas para negros e de 41 horas para brancos.
Porto Alegre é a única que registrou a mesma jornada para negros e brancos. Percentual de negros nos serviços domésticos e na construção civil ainda é maior que de brancos. (ABr)