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Por João Batista

Com 367 votos na Câmara e 55 no Senado, o presidente interino Michel Temer possui um invejável rolo compressor jamais visto nos últimos anos no Congresso Nacional, capaz de realizar facilmente as reformas tão esperadas pelos mercados financeiros, grande imprensa e FIESP. Votos suficientes para emplacar o ajuste fiscal que Dilma não conseguiu completar por absoluta falta de base parlamentar.

Reformas são bem-vindas, mas dependem de quem serão beneficiados com elas. Do lado dos servidores públicos federais, em especial os do Judiciário da União, não dá ainda para soltar rojões para comemorar a retomada de uma pauta positiva. Romero Jucá, atual ministro do Planejamento, então senador favorável ao projeto de reajuste dos servidores do Judiciário, disse que há na sua pasta 80 problemas para resolver. Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que é preciso analisar a realidade do momento, e saiu pela tangente quando foi indagado sobre os acordos em torno dos reajustes dos servidores, entre os quais se encontra o PL 2648/2015, projeto que repõe parcialmente as perdas salariais do corpo funcional do Judiciário Federal.

​Não existe melhor solo do que o da terra arrasada para passar o trator das reformas previdenciária e trabalhista. Serão essas inevitáveis no governo Temer​, até porque tem que retribuir os seus patrocinadores do impeachment. Afinal, a FIESP, que colocou um dos seus sentado na cadeira do Planalto, vai cobrar a pauta do grande empresariado que costuma entoar o mantra sagrado de que é preciso cortar gastos públicos, principalmente os da folha de pagamento dos servidores.

A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. A imprensa, comprada pelos anúncios publicitários, nunca verbaliza os escândalos dos bilhões de reais de renúncias e isenções fiscais aos grandes empresários, dos juros subsidiados do BNDES, dos lucros exorbitantes dos bancos com a dívida pública, dos empréstimos facilitados aos empresários do agronegócio... Tudo isso não tem sangria das finanças públicas. O pato, que não será o da FIESP, continuará sendo o servidor público que leva a culpa por quebrar o Estado. Foi assim no governo Dilma, continuará sendo no governo Temer.

Em relação aos servidores, o governo interino será uma continuidade do governo Dilma com a diferença de que terá um leque parlamentar mais abrangente para realizar o ajuste fiscal e as reformas constitucionais. Temer joga todas as suas fichas nesses 180 dias, tem uma bala só na agulha, não pode falhar, não pode desagradar a avenida paulista. Se continuar o naufrágio da economia, sabe que não terá os 54 votos do Senado para homologar de vez sua posse. Espera-se que esses votos não sejam obtidos em cima do arrocho salarial do conjunto dos servidores públicos federais.

Nós, servidores do Judiciário da União, que estamos há dez anos lutando por um plano de cargos e salários, temos que fazer nossa leitura de conjuntura, não podemos descansar, nada está garantido. Com Dilma, com Temer, com quem vier, a luta não para, deve continuar.

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João Batista é servidor do TRE-GO e membro da diretoria do Sinjufego

Obs.: Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não representando, necessariamente, a opinião da diretoria do Sinjufego

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