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Redação

As “pequenas” cidades, em sua maioria, sobrevivem de três coisas: dos repasses de impostos, da agricultura de subsistência e dos benefícios do governo. Na região de Campo Mourão existem vários municípios “pequenos”, que não têm indústrias, nem grandes empresas. A falta de emprego e a baixa renda comprometem o comércio dessas localidades, que passam a depender das aposentadorias, pensões e outros benefícios. Sem esses recursos, de acordo com levantamento feito pela Tribuna, o comércio seria inviável.

Na opinião de alguns comerciantes consultados pela reportagem, nas pequenas cidades o movimento do comércio é muito pequeno. Sobrevive, sobretudo, do dinheiro recebido pelos funcionários públicos, aposentados, pensionistas e bolsistas. Observam, ainda, que nos locais onde não existem agências bancárias o problema se agrava, os pagamentos dos benefícios do governo são feitos nos municípios vizinhos. E lá, muitas vezes, fica o dinheiro recebido. Para viabilizar seus negócios, os empresários locais sacrificam seus lucros e fazem verdadeiros malabarismos para atrair os consumidores.

Com aproximadamente 5.200 habitantes, segundo último censo do IBGE, Quinta do Sol, na região de Campo Mourão, é um bom exemplo da dependência do dinheiro dos aposentados, bolsistas e servidores públicos. O município é o maior empregador, com 230 funcionários. Segundo dados da prefeitura, cerca de 30% da população são de aposentados e pensionistas e em torno de 300 famílias recebem outros benefícios do governo federal. “Como é uma cidade carente, e sem grandes empresas, o comércio local depende muito dessas pessoas para se manter” observa Carlos Alberto Melo, assessor jurídico da Prefeitura.

“Estamos trabalhando para atrair empresas, mas como a nossa infra-estrutura é precária, elas não vêm. Apresentamos ao Governo Federal projetos para a construção de barracões industriais e financiamento de máquinas para a geração de novos empregos, mas estão parados esperando a liberação dos recursos” ressalta Melo.

Marcos Guerra, 46 anos, proprietário de um supermercado em Quinta do Sol, diz que a maioria de seus clientes são aposentados, pensionistas e trabalhadores rurais, principalmente os do corte de cana. “Infelizmente esta é a realidade da nossa cidade”, resume.

A vendedora de uma loja de material de construção, Rosane Correa, afirma que grande parte dos clientes da loja são pessoas que recebem benefícios do governo e funcionários públicos. “São os que têm maior poder aquisitivo, mas compram, quase sempre à prazo, esperando o dia do recebimento para pagar as contas”, complementa Rosane.

 A cidade de Farol, hoje com cerca de 3.400 habitantes, apresenta o mesmo quadro: a maioria do dinheiro investido no comércio é de pessoas que recebem benefícios ou funcionários públicos. Com 203 servidores, a prefeitura é a maior empregadora. Segundo Mercedes Moreira Guirro, da Ação Social, são 273 famílias cadastradas no Bolsa Família e muitas outras no programa da Tarifa Social. “A maioria de nossas famílias dependem de algum tipo de benefício, seja aposentadorias, pensões ou outros programas. É com esse dinheiro que sobrevive e, podendo consumir, movimentam o comércio da cidade” revela Mercedes.

Edson Fraga, proprietário de um supermercado na cidade diz que os aposentados são os seus melhores clientes. “O problema é que a maior parte das vendas é a prazo, porque eles compram para pagar quando recebem seus benefícios”. Ele observa que os funcionários públicos ganham melhor, mas não fazem suas compras na cidade, já que possuem carros e podem se deslocar com maior facilidade.           

Semelhança

A situação é semelhante em Boa Esperança, com 4.700 habitantes. Segundo dados da prefeitura, cerca de 30% da população recebe aposentadorias e pensões do governo federal, além de 290 beneficiários do programa Bolsa Família e mais 40 que recebem o “Benefício Previdenciário Continuado” (BPC). No município o maior empregador também é a prefeitura, 244 servidores ativos e mais 42 aposentados.

Além desses recursos, que movimentam o comércio local, a prefeitura constantemente cria programas sociais para incentivar o consumo na cidade. Como exemplo, Fernando Gonçalves Oliveira, da Assistência Social do município, cita o programa para a compra de material de construção. “O município doa até R$ 1000 em materiais para as famílias carentes, além de outros benefícios eventuais, como cestas básicas, ajuda para tirar a CNH, entre outros”, completa.

Segundo alguns empresários ligados ao comércio das cidades pesquisadas, a falta de emprego, a baixa renda e a concorrência dos vizinhos maiores praticamente inviabilizam suas atividades. Com essa combinação de dificuldades, o comércio local sofre. Circula pouco dinheiro e fica na dependência das camadas mais humildes da população. Segundo os empresários ouvidos, devido à pequena movimentação de mercadorias, não têm acesso aos grandes atacadistas e a maior conseqüência disso é que não conseguem oferecer preços competitivos.

No entanto, comerciantes dessas pequenas cidades apontam como principal trunfo para a manutenção de suas atividades, a fidelidade do público consumidor. Devido à amizade, familiaridade com o ambiente, condições de pagamento e ao atendimento, a relação se torna mais personalizada. “Os clientes têm um poder maior de negociação. Se quiser uma mercadoria diferente, o lojista providencia. São esses laços, que ainda nos mantêm vivos”, disse um empresário que preferiu não se identificar. Fonte:  jornal tribunadointerior.com.br

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