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A beatificação do Papa João Paulo II, a figura contemporânea mais popular do mundo católico de 1,2 bilhão de fiéis, será proclamada provavelmente por Bento XVI na Praça de São Pedro no Vaticano em outubro do ano que vem. Essa é a data na qual as fontes internas do Vaticano e os "vaticanistas" mais coincidiram.

Rapidamente foram derrubadas as versões de que Joseph Ratzinger proclamará seu sucessor beato quando se completem os cinco anos de sua morte em abril ou maio de 2010, ideia que havia florescido nas últimas semanas. Uma razão de fundo para a demora, que obviamente é negada pelas autoridades da Cúria Romana e de outros altos prelados, é o conteúdo das cartas que o polaco Karol Wojtyla trocou durante 55 anos com Wanda Poltawska. O Vaticano e a comissão que leva adiante o processo de João Paulo II aos altares da santidade querem "ver tudo".

A reportagem é de Julio Algañaraz, publicada no jornal Clarín. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Não se sabe se as cartas que Wanda guardam e que, segundo ela, "podem encher uma mala" já estão todas nas mãos da Igreja. Poltawska completou 88 anos e é uma mulher extraordinária. Médica psiquiatra como seu marido, também grande amigo de Karol Wojtyla, mãe de quatro filhos e de vários netos, conheceu o atual Papa em 1951 quando era um simples sacerdote e conta que, imediatamente, percebeu "sua santidade".

Wojtyla, por sua parte, ficou muito impressionado com ela, que havia sido prisioneira de um campo de concentração nazista na Alemanha e havia sido torturada com experimentos pelos médicos assassinos que as SS tinham. Surgiu assim uma grande amizade. Ele a chamava de "irmãzinha", e ela, de "irmão". Não faltou quem lançasse a hipótese de um "romance sublimado", mas nada mais. Emotivamente, Wojtyla era um solitário. Aos 20 anos, perdeu seu último parente. Essa solidão foi substituída por uma grande espiritualidade e pelo afeto de grandes amigos. Wanda foi uma deles.

Em 1962, Wanda adoeceu de um câncer de garganta e estava meio desenganada. O bispo Wojtyla de Cracóvia escreveu então ao padre Pio de Pietrelcina, com uma grande fama de "milagreiro" e "atencioso". Pediu-lhe orações e intercessões diante do Altíssimo. Padre Pio atendeu, e Wanda inexplicavelmente ficou curada. Dizem que, além disso, ele previu que o jovem bispo era um futuro Papa e "não posso dizer não" ao seu pedido. Wojtyla ficou convencido do milagre e, em seu longo reinado de 26 anos e meio como João Paulo II, proclamou o padre Pio primeiro beato e depois santo.

Em junho, Poltawska publicou em um livro o conteúdo de algumas das cartas. Disse que seu amigo Karol, a quem visitou muitas vezes no Vaticano e na residência de Castelgandolfo junto com sua família, havia lhe autorizado a fazer isso. O cardeal arcebispo de Cracóvia, Stanislao Dziwisz, criticou Wanda por ter tornado pública a troca de cartas privada e disse que ela "alardeava uma influência que não tinha" com o Papa.  Dziwisz chegará neste domingo a Buenos Aires, convidado pela Universidade Católica Argentina. Hoje, Dom Stanislao, como os jornalistas o chamam no Vaticano, é um dos purpurados mais prestigiados da Igreja. Ninguém como ele conheceu João Paulo II durante as décadas em que foi seu secretário privado e grande amigo.

O secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, jogou um balde de água fria no entusiasmo dos que queriam a beatificação de João Paulo II em abril, ao se completarem os cinco anos de sua morte. "Essas notícias não se baseiam em nenhuma decisão concerta", disse à rádio vaticana. "Ainda é preciso completar várias etapas".

Em dezembro, os cardeais e arcebispos da comissão da Congregação para a Causa dos Santos que devem dar sua aprovação final irão se reunir. Também falta um decreto sobre as "virtudes heroicas" do candidato aos altares, que deve ser assinado pelo Papa. E ainda mais importante: deve ser aprovado um milagre. O caso já está pronto: é o de uma freira francesa que padecia de um precoce mal de Parkinson. Um mês depois da morte do Papa e com as orações das irmãs de sua comunidade, produziu-se a cura inexplicável para a ciência.

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