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O Popular - Coluna da Cileide Alves - Dia 16/11/2009

‘PR, PSB e DEM só vão se unir ao PP caso o governo esteja estável, razoavelmente avaliado pela população e com obras e serviços para mostrar à sociedade.’
Liderada pelo governador Alcides Rodrigues, a reunião entre PP, DEM, PR e PSB, para discutir a construção de um projeto político-eleitoral para 2010, aconteceu na quinta-feira por causa da sinalização que o governo recebeu da Secretaria de Tesouro Nacional (STN), dois dias antes.

Aparentemente são fatos independentes; o primeiro é político e o segundo administrativo, mas na prática estão interligados. O sinal verde da STN, em Brasília, para o Estado captar R$ 280 milhões de empréstimos para investimento em infraestrutura animou o governador e seus aliados, pois abriu uma perspectiva positiva para o último ano de seu mandato, já que o governo vivia a sombria previsão de falta de recursos não apenas para obras, mas até mesmo para o básico, como pagamento em dia dos salários do funcionalismo.

A perspectiva desse empréstimo e sua consequência política futura levaram o governador a se sentir politicamente fortalecido para o passo seguinte, a articulação da reunião da quinta-feira. Encheram de ânimo também os eventuais aliados PR, PSB e DEM, que já têm a disposição de se unir ao PP, mas esperam a reação do governo para tomar uma decisão.

Como apenas a boa vontade política desses quatro partidos de construir um projeto alternativo às candidaturas do senador Marconi Perillo e do prefeito Iris Rezende não é suficiente, precisou de um fato concreto para eles se sentarem novamente e começarem a se reaquecer para voltar a campo, de onde estão afastados olhando à distância a jogada entre PMDB e PSDB.

O episódio da semana passada indica como a estabilidade político-administrativa do governo será fundamental para o futuro dessa articulação. PR, PSB e DEM só vão se unir ao PP caso o governo esteja estável, razoavelmente avaliado pela população e com obras e serviços para mostrar à sociedade. Para isso, as coisas precisam começar a acontecer.

A expectativa dos governistas é otimista. Estão empolgados, mas vão ter de trabalhar rápido para que essas expectativas se tornem realidade. A solução para o longo, e até hoje insolúvel, problema da Celg é inadiável, pois, para usar as palavras do governador, este é o maior “gargalo” do Estado.

Cada vez que se toca neste assunto, a resposta é quase sempre a mesma: a solução virá em breve, mas o tempo já está passando – ou o governo resolve a crise da Celg ou terá de explicar à população por que não conseguiu resolvê-la em todos esses anos. Por enquanto, o governo tem a promessa dos empréstimos e da renegociação das dívidas da Celg. Confirmará que é um parceiro político atraente quando o dinheiro do empréstimo entrar no caixa e quando conseguir sanear a Celg.

A liderança política do governador também será decisiva para o futuro dessa articulação. Os líderes que estiveram no encontro da semana passada gostaram especialmente das intervenções do governador, pois acharam que ele foi mais incisivo desta vez do que comumente se apresenta.

Um amigo define as ações políticas do governador como “parcimoniosas”, diz que ele “não costuma pôr a faca no pescoço” das pessoas com as quais negocia e admite que “às vezes é preciso adivinhar” o que ele quer dizer. Só que agora, o que os líderes partidários esperam é ver o governador dizer claramente o que quer, sugerir alternativas, enfim, liderar.

Um dos presentes na reunião da semana passada afirma que o próximo passo dos quatro partidos será afinar o discurso e admite que essa tarefa caberá a Alcides. Para isso, ele terá de assumir a liderança do grupo. Na entrevista que concedeu no dia seguinte ao encontro, o governador foi explícito sobre o que ele não quer (a candidatura de Marconi), ao afirmar que a única condição desse grupo é exatamente não “ter candidato pré-definido”, coisa que o PSDB já tem.

O governador expôs sua teoria sobre o processo político em Goiás, que comunga com as principais lideranças dos outros três partidos. Para ele, não há partidos fortes isoladamente, porque não existe força hegemônica no Estado. O que torna um projeto forte, acredita, é a congregação de várias forças políticas em torno dele.

Por este raciocínio, a união dos quatro partidos, associada à força natural de um governador, o comandante da máquina administrativa, forma um grupo político consistente e com poder para alavancar qualquer candidatura, como já aconteceu outras vezes em Goiás. Caso de 1998 e de 2006, quando foram eleitos dois candidatos (Marconi e Alcides) que não lideravam as pesquisas de intenção de votos.

Os exemplos confirmam o raciocínio de Alcides. Entretanto, falta acrescentar um dado novo: em 1998, Iris era o único líder eleitoralmente forte em Goiás. Agora há dois líderes populares, Iris e Marconi. A polarização entre eles é o fato político que diferencia a conjuntura atual das anteriores. Isso vai exigir ainda mais acerto político do grupo dos quatro.

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