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A criação da CPI do Endividamento, concebida com o nome de CPI do Déficit, mas registrada com nome novo, forçará marconistas e alcidistas a estabelecerem novo relacionamento na Assembleia Legislativa. A despeito das divergências públicas que levaram a um rompimento conhecido, mas não declarado entre o senador Marconi Perillo (PSDB) e o governador Alcides Rodrigues (PP), tem prevalecido na Assembleia a política de boa vizinhança, com deputados alinhados aos dois lados.

Nesse jogo de dubiedade, o deputado mantém-se próximo dos dois líderes, equilibrando-se entre agradar o poder, o governador Alcides, sem perder de vista a possível perspectiva de poder representada pelo senador Marconi.

Isso vinha sendo feito com alguma desenvoltura e com a aquiescência dos dois líderes. O deputado vota os projetos de interesse de Alcides, contribuindo para a sustentação de seu governo, mas se apresenta como aliado do senador Marconi. A criação da CPI na semana passada poderia ter ocorrido dentro desse jogo se o governo não tivesse entrado para impedir sua aprovação. Essa decisão forçou os deputados a tomar uma atitude, ou ficar com Alcides ou com Marconi. Por isso os tucanos não conseguiram as 20 assinaturas que pretendiam, tendo por base o número de deputados que consideram fiéis ao projeto do senador.

A CPI foi criada com apenas 14 nomes, menos do que pretendia o senador. Isso não quer dizer que Marconi ficou com minoria na Assembleia nem que o governador conquistou a maioria. Indica apenas que no primeiro teste de força os tucanos não obtiveram o resultado que esperavam. Para criar a CPI, tiveram de se utilizar de um recurso da minoria, o mesmo negado à oposição no governo do PSDB. Trata-se da interpretação de que a criação de Comissões Parlamentares de Inquérito não necessita do voto da maioria dos parlamentares em plenário, pois é um direito da minoria propor uma investigação. No governo de Marconi, a oposição tentou usar esse entendimento para criar a CPI da Educação, que pretendia investigar se o Estado aplicava no setor a porcentagem do orçamento definida constitucionalmente. A maioria governista negou sua instalação na época, levando a oposição a entrar na Justiça, que confirmou o direito da minoria.

Ironicamente, agora os tucanos recorreram a esse entendimento para instalar a CPI do Endividamento com apenas 14 assinaturas. Dessa vez, contaram com um aliado de peso, o presidente da Assembleia, o tucano Helder Valin, cuja atuação foi determinante para a instalação da CPI na semana passada.

Os aliados do senador estão convictos de que, a despeito do pequeno número de apoiadores iniciais, não terão dificuldade em instalar a comissão com parlamentares fiéis e promover as investigações, pois confiam que a base marconista atuará intransigentemente na defesa dos interesses tucanos. A intenção dessa CPI, mesmo com nome novo, não é outra senão, para usar as palavras de um deputado tucano, “desmistificar o mito de que Marconi deixou um déficit de R$ 100 milhões ao mês”. O PSDB está na realidade antecipando para este mês um debate que, sabem, ocorreria na campanha eleitoral. Essa precipitação é uma jogada eleitoral, com objetivo não apenas de esgotar esse assunto. Ao antecipar a discussão para a fase pré-eleitoral, os tucanos poderão argumentar, quando ela ressurgir no auge da campanha, que se trata de “café requentando”. Por essas razões, a CPI transformou-se em assunto vital para os marconistas e, por motivos opostos, leva os governistas a quer rifá-la do debate na Assembleia.

A partir dessa distensão ocorrerá o embate de forças nesta semana. Os marconistas vão atuar para instalar a CPI com deputados que, para isso, terão de fazer opção e assumi-la perante o senador e o governador. Alcides convocou deputados para conversas no Palácio das Esmeraldas neste início de semana. Se depender de seus aliados assumidos na Assembléia, ele vai cobrar fidelidade, pois a intenção desses governistas é criar um bloco novo (eles sonham com uma bancada de 23 parlamentares), formado por fiéis que topem assumir a escolha pró-Alcides e garantir a sua governabilidade em troca das costumeiras ajudas palacianas a seus projetos políticos.

Para isso, o governador terá de mudar seu estilo de ação política, fazer escolhas e exigir, com rapidez, que os outros também façam as suas escolhas. A seu favor, ele conta com a máquina do Estado (cargos para afilhados políticos dos parlamentares e ajuda com obras para suas bases), estrutura que todo deputado tem pavor de perder em ano eleitoral. Contra o governador, pesam seu próprio estilo de demorar a tomar decisão política, o fato de não ter candidato competitivo para sucedê-lo e ainda ter menos de um ano de mandato

Já Marconi tem a seu favor sua liderança popular, que lhe dá uma inquestionável perspectiva de poder, mas tem contra si a incapacidade de oferecer aos parlamentares a mesma contrapartida do governo. Por isso a semana promete ser de embate entre essas duas forças. E o resultado desse enfrentamento dependerá agora muito da forma de atuação do próprio governador na hora de cobrar fidelidade, coisa que ele não fez até o momento.

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