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O Popular – Coluna da Cileide Alves - Dia 08/03/2010
 
Nas palavras do senador Marconi Perillo em discurso, sexta-feira, em sua festa de aniversário no Atlanta Music Hall, a chave para entender o significado simbólico para os tucanos desse megaevento: “Minha energia vem da esperança de fazer o melhor por Goiás. Vem da energia positiva dessas pessoas. Apesar de ações desconstrutivas, é mais uma demonstração de que ninguém apaga o trabalho daqueles que atuam com seriedade, responsabilidade, amor e, principalmente, focando o melhor para o Estado.”

A festa meticulosamente organizada pelos próprios tucanos para receber milhares de pessoas, com atrativo de duplas sertanejas incluindo os famosos Zezé di Camargo e Luciano, cumpriu um papel menos político e mais simbólico de reenergizar o senador e seus aliados, fragilizados pela desconstrução de sua imagem. Ao dizer que sua energia positiva vinha das pessoas que lotavam o local, apesar das “ações descontrutivas”, o senador revelava que o sucesso do evento mais do que dar uma resposta aos seus adversários, em especial aos governistas, revigorava a confiança dos tucanos neles próprios e na força eleitoral do senador.

Marconi e aliados circularam entusiasmados pelo salão, como se estivessem vivendo a fase anterior ao racha com o governo, quando a imagem do senador estava associada a de um administrador eficiente e a de um líder de 2 milhões de votos, ou seja, com uma imagem positiva. A festa simbolizava a volta, para usar uma expressão do evento (foram distribuídos adesivos escrito “volta” nas cores do partido e ilustrado pelo desenho de um tucano) a esse passado de glória, pelo qual os tucanos hoje lutam tanto e em várias frentes. A festa representou um alívio momentâneo, uma parada para reenergizar a continuidade dos embates, que tendem a se tornar ainda mais tensos no período eleitoral.

A vida não tem sido fácil para os tucanos. Exemplos dessa dificuldade podem ser encontrados no enfrentamento com os governistas na Assembleia Legislativa e no princípio de crise com o DEM, mais especificamente com o deputado federal Ronaldo Caiado e o senador Demóstenes Torres. Na Assembleia, o governo reagiu na semana passada à tentativa dos tucanos de formar maioria entre os deputados e conseguiu algumas pequenas vitórias. Alcides passou a semana recebendo prefeitos e parlamentares. O poder da caneta funcionou e a maioria ficou com o governo em algumas votações. A semana terminou com o deputado Daniel Goulart (PSDB), o mais fiel dos marconistas, admitindo que nenhum dos dois lados tem maioria. “Quem vacilar vai perder a votação”, disse.

O PSDB tem trabalhado muito nas articulações para ter o DEM em sua aliança majoritária, mas uma declaração de Marconi azedou a reconstrução da relação, em especial com Caiado e Demóstenes. Foi a defesa de Marconi a uma provável candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi, recentemente filiado ao PTB, a senador na aliança tucana. Caiado e Demóstenes temem que uma candidatura desse porte, do ponto de vista da estrutura financeira, possa ameaçar a reeleição do senador democrata.

“Tanto a candidatura do Júnior quanto a do Henrique Meirelles (PMDB) têm sido inseridas de forma equivocada pelos partidos, que buscam apenas o dinheiro que eles têm. Eles são bons candidatos apenas porque são ricos?”, provocou Demóstenes. Caiado também foi direto: “Achamos deprimente quando o poder financeiro tem prioridade sobre os méritos dos demais candidatos. A reeleição do senador Demóstenes Torres é prioridade no nosso partido”.

O presidente regional do PTB, deputado Jovair Arantes, fez a defesa do novo petebista desdenhando as críticas, que considerou apenas fruto do “incômodo” dos democratas e da senadora Lúcia Vânia, que também seria rifada da chapa majoritária para abrir vaga para o empresário do ramo de frigorífico.

Jovair defende Júnior do Friboi alegando que ele tem uma “história de sucesso empresarial”, que é um “líder popular” e que seu sucesso financeiro não pode ser uma “restrição” para se tornar candidato. A primeira afirmação é inquestionável, a segunda facilmente questionável e a terceira, uma meia-verdade.

De fato um empresário não pode sofrer restrição apenas por ter estrutura financeira, mas isso também não pode ser o único critério para garantir sua entrada pela porta da frente, já no topo da pirâmide política, sem que tenha dado incontestáveis provas de liderança política. Caiado e Demóstenes até estão preocupados com o futuro de seu senador, mas levantam uma discussão pertinente sobre o poder econômico em uma eleição, que foi incluída no debate pelo próprio PSDB.

Episódios como esses mostram como os tucanos têm entrado em bolas divididas correndo o risco de sofrer escoriações e contusões. Se serve de consolo para os tucanos, o governo também não vive situação mais fácil.

Afinal, o que se pode dizer de uma força política cuja aposta atual para liderar a chapa majoritária – o prefeito de Senador Canedo, Valderlan Cardoso (PR) – assinou manifesto de prefeitos, publicado nos jornais, celebrando o aniversário de Marconi no dia em que seu partido teria tentado convencê-lo a ser o candidato a governador do grupo de Alcides justamente contra Marconi?

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