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Nunca se viu, na história deste país, um esforço igual para tornar conhecida uma pessoa. Mas somente a metade da população foi alcançada

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:

Embora as pesquisas já se tenham tornado, faz tempo, elemento inseparável da vida política brasileira, ainda são muitas as pessoas que têm dificuldades em lidar com elas. Mesmo os jornalistas e os políticos profissionais, que estão sempre às voltas com elas, as enfrentam.

São problemas que aumentam em épocas eleitorais, quando as emoções e paixões afloram. As dúvidas e suspeições que cercam as pesquisas ficam mais frequentes, a respeito da representatividade das amostras, da isenção dos institutos, do modo como são formulados e aplicados os questionários, de até que ponto a publicação de resultados interfere na eleição. A cada vez que uma nova pesquisa é divulgada, esses questionamentos reaparecem, dificultando ainda mais sua compreensão.

Exemplo de uma dimensão que nem todo mundo entende é a influência do nível de conhecimento dos candidatos nas intenções de voto. Para os pesquisadores, é algo fundamental, enquanto que a maioria da população raramente lhe dá atenção.

A responsabilidade disso é, em grande parte, dos próprios institutos e dos veículos de comunicação. A cobertura jornalística de uma pesquisa costuma centrar-se nos resultados agregados — os que se referem ao conjunto da amostra — sem alertar o leitor ou o espectador sobre a necessidade de sempre os considerar levando em conta quão conhecidos são os candidatos. Muitas vezes, essa informação é apresentada com pequeno destaque ou nem sequer é divulgada.

Em uma sociedade como a nossa, os problemas que daí decorrem são grandes. Fizemos, ainda nos anos 1930, a opção pela obrigatoriedade do voto, tornando compulsória a participação mesmo de quem não tem interesse pela política e as disputas eleitorais. A isso se somam nossas imensas lacunas educacionais, que deixam contingentes inteiros do eleitorado com pequenas condições de consumir informação.

Alguns números: perto de 50% de nossos eleitores não têm nenhum ou têm interesse muito baixo por política; menos de 35% acompanham o noticiário sobre o tema com alguma regularidade; 30% das pessoas não votariam caso não fossem obrigadas.

Se quiséssemos, outros poderiam ser lembrados, todos pintando o mesmo quadro.

Mas não é preciso ir longe, basta olhar para um dos aspectos mais óbvios das eleições deste ano: a candidatura de Dilma. Faz mais de dois anos que ela está diariamente em todos os jornais, que, quase com a mesma frequência, aparece na televisão e no rádio.

A ministra já deu centenas de entrevistas, foi a talk shows e programas de auditório, em emissoras de todo o Brasil.

O político mais popular de nossa história, seu patrono, deve ter mencionado seu nome milhões de vezes, saiu com ela em incontáveis fotografias, subiu a seu lado em centenas (ou serão milhares?) de palanques.

Pois bem, cerca de 50% da população brasileira continua a não conhecê-la e a não saber que ela é a candidata de Lula. E isso agora, quando falta pouco mais de seis meses para a eleição. Nunca se viu, na história deste país, um esforço igual para tornar conhecida uma pessoa. Mas somente a metade da população foi alcançada.

Quando se pergunta a quem não a conhece como vai votar, de uma coisa podemos estar certos: muito dificilmente a pessoa responderá que nela. Se conhecer algum outro nome na lista, é provável que o assinale. Se não (ou se tiver uma impressão negativa de todos), optará por dizer “não sei”.

Para um lugar da importância da Presidência, o eleitor brasileiro simplesmente não vota (e não diz que votaria) em quem não conhece.

É possível que o faça quando escolhe deputados e vereadores, pois costuma ficar confuso perante centenas de nomes e tende a seguir a orientação de alguém em quem confia (parente, pastor, padre, etc.). Mas não para presidente.

Hoje, a metade do eleitorado que não conhece Dilma fica com Serra ou Ciro, pois Marina é ainda menos conhecida. Ou então diz que não sabe, por não estar à vontade com ambos.

Há, portanto, um voto potencial em Dilma engrossando as intenções de voto nos candidatos do PSDB e do PSB. Não sabemos seu tamanho, mas é quase certo que existe.

Aliás, é o que sugerem as pesquisas recentes, que indicam que o governador cai enquanto ela sobe. A recíproca pode ser verdadeira, mas em escala muitíssimo menor, dado o fato de Serra ser amplamente conhecido.

Enquanto não se ampliar o conhecimento a respeito de Dilma (e a associação entre ela e Lula), os resultados agregados das pesquisas dizem pouco. Sua evolução (e o que acontece com as intenções de voto à medida que aumentar) é a questão mais relevante das eleições deste ano. Fonte: Correio Braziliense

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