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De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:

As eleições presidenciais andam quentes e os nervos estão à flor da pele. Nos últimos dias, tivemos de tudo: candidato brigando com candidato, presidente com presidente, lideranças de um partido contra as de outros. Houve até instituto de pesquisa brigando com os demais.

Dilma e Serra são, como é natural, os protagonistas desses confrontos, e nada têm feito para serenar os espíritos. Ao contrário, cada um a seu modo, jogam lenha na fogueira, usando todas as mídias para atacar o adversário. Declarações à imprensa, discursos em palanque, páginas na internet, mensagens pelo twitter, todas as trincheiras são ocupadas. Pelo que dizem, não vão ceder um milímetro: vai ser olho por olho, dente por dente.

Esse clima de ânimos exaltados não corresponde ao que acontece com a opinião pública. Nas pesquisas qualitativas, quando os eleitores podem se expressar livremente e não são premidos pela complicada pergunta “em quem você votaria se a eleição fosse hoje?”, vê-se o inverso: uma maioria que não foi tocada, ainda, pelas emoções da campanha.

Não há nisso nada de anormal. Seja no Brasil, seja no resto do mundo, as eleições costumam ser assim, com o envolvimento tardio da maior parte dos cidadãos. Pessoas conversando sobre a eleição na fila do ônibus, no salão, no botequim, no almoço de domingo, são coisas que só vemos perto do dia de votar. Gente comum se engalfinhando é coisa rara mesmo na véspera do pleito.

Só em condições especiais acontece a mobilização antecipada de segmentos relevantes do eleitorado, que os leva a se posicionar cedo e a logo se comprometer afetivamente com a disputa, escolhendo lado, defendendo candidato, criticando “inimigos”. Em nossa história recente, a que mais perto chegou disso foi a de 1989.

Pudera. Nunca tinha havido, no Brasil, uma eleição tão esperada quanto aquela. Quando a eleição direta, pela qual milhões de pessoas foram às ruas, finalmente chegou, o país inteiro queria participar.

(É possível que a vitória de Collor se explique, pelo menos em parte, pelo calendário. Com tanta gente querendo votar o quanto antes e ele aparecendo em três programas partidários pela televisão entre março e abril - que, somados, duraram três horas - muitos fizeram ali sua escolha. Tantos que, apesar do desgaste subsequente, bastaram para levá-lo ao segundo turno. Lá, o medo de Lula fez o restante.)

Em 2002, voltamos a ter uma eleição de maior participação, depois de duas dominadas por uma agenda que despertava poucas paixões, sob a égide do Real. A que Lula venceu começou rapidamente, e os altos e baixos pelos quais os candidatos passaram no primeiro semestre daquele ano mostram como o eleitorado estava incerto sobre o que queria. oseana, Ciro, Garotinho, Serra, todos tiveram seu auge, até que a maioria se fixou em Lula.

Por esses exemplos, parece que são apenas as eleições marcadas pelo desejo de mudança que começam cedo e logo tocam o coração dos eleitores. Somente quando essa vontade está presente é que a temperatura sobe na opinião pública. Sem ela, não contagiam as pessoas comuns, mesmo que entrem em ebulição no meio político.

Eleições sob o signo da continuidade tendem a ser pacatas, menos motivadoras, pouco calorosas. No limite da sensaboria, chegam ao que aconteceu em 1998, na eleição mais sem graça de nossa história recente.

Implícita no raciocínio está a ideia de que, para quem representa a continuidade, quanto menos marola melhor. Vice-versa, que um clima de emoções exacerbadas, uma opinião pública agitada, favorece quem propõe a mudança.

O engraçado, este ano, é que o maior animador do cenário tem sido Lula, aquele que mais tem a ganhar se os eleitores forem dormir hoje, para só acordar no dia 3 de outubro. Fonte: Jornal  Correio Braziliense

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