Tribuna do Planalto - Política - De 15 a 21 de novembro de 2009
Claúdio Curado *
A última pesquisa de intenção de voto para a sucessão presidencial, divulgada na semana passada pelo Instituto Vox Populi, mostra que Serra caiu de 40 para 36%. Por outro lado Dilma subiu os mesmos quatro pontos: passa de 15 para 19%. Os dados mostram também um crescimento nos índices de aprovação do governo Lula, que chega a marca invejável de 68%. Tudo isto numa margem de erro de 2,4%.
Num segundo cenário pesquisado pelo instituto mineiro (sem José Serra) Dilma tem 20%, Ciro Gomes aparece com 19% e o governador Aécio Neves é o terceiro, com 18% de intenção de votos. As candidaturas de Marins Silva (PV) e Heloisa Helena também constaram das cartelas, mas obtiveram números menores do que 5%. Parece não ter tido muito efeito a transferência de Marina Silva para o PV e o pré-lançamento do nome dela a presidência da república. Os outros nomes citados – Ciro Gomes e Heloísa Helena – se mantém praticamente com índices das pesquisas anteriores.
Os números desta nova rodada de pesquisas do Vox Populi, por si só, não deveriam provocar alguma preocupação nos tucanos paulistas, que mandam no partido e devem bancar a indicação de Serra. Afinal, Serra tem 17 pontos de vantagem sobre a principal concorrente e ainda faltam onze meses para a eleição.
No entanto estes novos dados nos impelem a uma série de conjecturas. A primeira delas é de que o tucano que dirige o mais rico estado brasileiro parece ter chegado a um teto provisório em sua postulação. Outra questão é a constante subida de Dilma nas pesquisas. Ela vem num crescente, mesmo tendo estado longe dos holofotes da mídia no período da pesquisa.
As dificuldades vão muito além das constantes quedas de Serra nestas pesquisas. O PSDB se ressente de boas articulações nos principais colégios eleitorais. Em São Paulo, onde tudo deveria ser tranqüilo, o partido olha de soslaio as articulações do DEM e a possibilidade deste lançar o prefeito da capital a sucessão do governador. Isto tem atrapalhado as negociações do partido de FHC. No Rio de Janeiro o partido apresenta estrutura precária e nem candidato conseguiu ainda articular. Neste estado, verdade seja dita, o PT também sofre de inanição. No entanto o governador e o prefeito do estado acenam com a possibilidade de estarem no palanque onde Lula se apresentar.
Em Minas Gerais o governador chegou a ameaçar uma candidatura ao senado, deixando a sucessão em segundo plano. Na verdade, Aécio Neves joga ainda com a possibilidade de ele vir a ser o candidato do PSDB. No Rio Grande do Sul o partido já jogou a toalha e o cadáver insepulto da governadora será uma carga pesada demais para qualquer candidato a presidente em campanha pelos pampas.
No Paraná e na Bahia a situação dos tucanos também não é favorável e o PT tem muito força, seja por ter um governador (Jacques Wagner, na Bahia), seja pelo fato do paranaense Roberto Requião definitivamente não morrer de amores pelos tucanos do estado dele. Em todo o nordeste, onde temos estados populosos como Pernambuco e Ceará, a imensa popularidade do presidente Lula certamente terá um grande peso e deverá transferir muitos votos para a candidata presidencial.
Se não bastassem estas conjunturas estaduais, temos ainda alguns dados nacionais que devem influenciar na eleição. O fato de termos tido um apagão na semana que passou, com milhões de pessoas prejudicadas, deve ter reflexo nenhum. Os tucanos não devem bater nesta tecla, por terem sido em seu governo que ocorreram apagões e um grande racionamento de energia. Por outro lado até o clima parece ajudar Dilma Roussef. Os reservatórios das hidrelétricas estão cheios, o que manterá o fornecimento de energia em níveis normais nos próximos meses. Outro aspecto positivo vem da economia. Devemos ter, segundo análises de entidades empresariais, o melhor natal dos últimos anos e a indústria e o comércio devem manter os níveis de empregos e até criar mais postos de trabalho.
Tudo isto tem levado desconforto aos altos mandatários do PSDB. E a primeira vítima pode ser da área de marketing de campanha. Uma briga interna de caciques cobra a cabeça do marqueteiro de Serra. Querem alguém que tenha conhecimento além de São Paulo. O provável candidato do PSDB reconhece que a candidata do presidente Lula será um osso muito mais duro de roer do que imaginavam os dirigentes do partido. E isto tem tirado o sono dele, de Fernando Henrique e outros próceres do tucanato.
* Claudio Curado é jornalista, diretor da CCN comunicação e colaborador da Tribuna do Planalto.