Tribuna do Planalto - Política - De 15 a 21 de novembro de 2009
Bruno Hermano
O eleitor goiano está cansado de ter que escolher entre Iris Rezende e Marconi Perillo. PMDB ou PSDB. É importante e necessária a construção de um novo projeto, de uma alternativa política à polarização entre o prefeito e o senador. Estas afirmações compõem uma das premissas principais para a construção do projeto de governo que o governador Alcides Rodrigues (PP) e seus aliados do DEM, PR e PSB pretendem apresentar aos eleitores goianos na campanha eleitoral de 2010.
A viabilidade da chamada terceira via ou candidatura alternativa depende de muitos fatores e, um deles, talvez o mais forte, é da disposição do eleitor em optar, mais uma vez, pelo novo. Quando Iris Rezende foi governador de Goiás pela primeira vez, em 1982, ele era o novo. Ele inauguraria um novo jeito de governar. Depois de 16 anos do PMDB no poder, em 1998, Marconi Perillo (PSDB) venceu a eleição em que o povo queria derrotar o velho. Marconi Perillo era o representante do “tempo novo”, era a novidade. Marconi governou por 8 anos e elegeu seu sucessor.
Os eleitores goianos estariam, hoje, dispostos a entregar o poder nas mãos de um novo grupo político, de um nome que represente essa novidade? Os goianos estão, mesmo, cansados de escolher entre PSDB e PMDB ou, de fato, em sua maioria, nutrem simpatia por estes dois partidos – ou seus principais líderes – mais do que por qualquer outro? Essas são perguntas que, talvez, só serão respondidas no resultado das eleições do ano que vem. Em todo caso, pesquisadores e especialistas em marketing político já trabalham para respondê-las à classe interessada.
O governador Alcides Rodrigues, por diversas vezes, já afirmou acreditar que há espaço para uma terceira candidatura. Definitivamente rompido com o senador Marconi Perillo, o governador tem pela frente a missão de construir essa alternativa para não ter que optar pelo apoio a Marconi ou Iris no ano que vem. Na última semana, mais alguns passos foram dados no sentido de viabilizar esse projeto.
O governador Alcides e os presidentes do PP, DEM, PR e PSB se encontraram na quinta-feira, 12, para discutir a elaboração desse projeto. A chamada terceira via ou candidatura alternativa parece começar a tomar forma. Em rara ocasião, o govenador falou sobre o assunto com jornalistas durante solenidade no Palácio das Esmeraldas. “Reunimos com o DEM, PR, PP e PSB e ficou evidente a vontade destes partidos, assim como outros partidos com os quais me reuni na tarde de ontem, de caminharem unidos em uma direção, defendendo um projeto coletivo para Goiás”, declarou.
Na visão defendida pelo governador e os presidentes dos partidos com os quais tem conversado, não existem forças hegemônicas em Goiás, por isso há espaço para outra candidatura. “Em Goiás não temos nenhum partido que seja hegemônico. O que torna forte um projeto é a contemplação de forças políticas representativas de partidos importantes em Goiás”, disse o governador.
Partindo dessa concepção, de que PMDB e PSDB não são hegemônicos, Alcides acredita que o seu grupo é forte o suficiente para bancar um candidato a governador. “Neste sentido nós estamos na frente, pois temos partidos fortes com o mesmo pensamento. Neste momento, não vejo ninguém com hegemonia eleitoral ou política. Estamos em uma fase preliminar de uma campanha. Em uma campanha para governador, o que vale são os momentos finais de uma eleição, depois das convenções e depois de feitas as escolhas dos candidatos”, defendeu.
PSDBxPP
Ao afirmar que o momento ainda é preliminar e que o que vale são os momentos finais, o governador sustenta que o importante, nesta etapa, não é escolher o nome do candidato e, sim, discutir o projeto a ser apresentado aos eleitores. O governador argumentou que “ninguém ganha por antecipação” e que, portanto, “o que vai valer são os projetos a serem apresentados, os nomes e as forças políticas que estarão construindo esse projeto em comum”. Segundo Alcides, o projeto político que está em construção será apresentado oportunamente e é um projeto que trata o Estado “com responsabilidade econômica, social e com austeridade”.
O nó político que o governador pretende desatar com a construção desse projeto é decorrente de seu rompimento com Marconi Perillo. O PP é visto como tradicional aliado do PSDB. Alcides foi vice-governador de Marconi e foi eleito com o apoio do PSDB. Optar pelo apoio ao PMDB, já que está rompido com Marconi, também não é uma boa opção, uma vez que o PP, mais que o PSDB, sempre fez oposição ao PMDB. Como o PP teve papel coadjuvante nos dois governos do PSDB, paira a ideia de que o partido está, hoje, no poder, graças à força do PSDB e de seu principal líder.
Questionado se o PP é forte sem o PSDB, Alcides foi enfático. “Eu que pergunto se o PSDB é forte sem o PP. Porque o PP tem participado de todas as lutas em Goiás, em todas as disputas e em todos os planos. Não é um partido de agora, é um partido que sempre teve posição em Goiás. Quando o PMDB estava há 16 anos no poder, o PP já era oposição. É um partido que tem história e lideranças em todo o Estado”, ressaltou.
Sobre o fato de seu partido ter um histórico de ligação com o PSDB e de, mesmo assim, buscar uma outra candidatura ao invés de apoiar Maconi, Alcides declarou que “o que o PP não aceita é prato pronto. É isso que o PP se propõe a discutir. Não podemos ser levados a reboque de ninguém e isso esses partidos não aceitam, isso ficou evidenciado nessa reunião.”
As opções de Alcides
Os dois políticos que tem trabalhado para se cacifarem como candidatos do grupo aliado ao governador são Ronaldo Caiado (DEM) e Sandro Mabel (PR). Este segundo é o que tem articulado mais abertamente e manifestado de forma mais clara a sua intenção em ser o candidato. Mabel já age como pré-candidato a busca o diálogo com lideranças para viabilizar seu nome. Outro nome citado para o posto é o do secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PP).
Braga filiou-se ao partido do governador colocando-se à disposição de Alcides para ser candidato ao governo em 2010. Contudo, como secretário de governo, não pode agir como pré-candidato, sob pena de comprometer seu trabalho à frente da Sefaz. Ronaldo Caiado, por sua vez, já declarou que é o pré-candidato a governador do DEM, mas parece não trabalhar com o mesmo empenho que Mabel para se viabilizar.
Na sexta-feira, em entrevista à Rádio 730, Mabel falou sobre a reunião com o governador. Segundo ele, essa foi a primeira reunião “para começar a traçar uma linha nessa opção de terceira candidatura”. As palavras de Mabel coincidem com as do governador no que diz respeito ao interesse de todos os partidos lá reunidos em construir uma candidatura alternativa.
Na conversa, chegou a ser discutida a formação de um chapão de candidatos ao Legislativo. “Conversamos sobre a forma como poderíamos construir essa terceira via. Uma coisa com a qual todos comungam é a formação de uma chapa de candidatos a deputado federal e estadual, pois todos os partidos possuem muitos candidatos e só com isso já formaríamos uma chapa muito forte”, revelou o deputado.
A união do PP, DEM, PR e PSB, somados a outros partidos menores, como o PTN, formaria, de fato, uma chapa forte. Pelo menos no que diz respeito ao tempo de propaganda eleitoral gratuita na televisão, essa união levaria vantagem em relação às prováveis coligações a serem encabeçadas pelo PSDB e o PMDB. “Tem a visão também de senador. Demóstenes teria um tempo de televisão importante”, ressaltou Mabel.
Embora trabalhe para se viabilizar, o deputado republicano também concorda com o governador ao afirmar que, quanto ao nome para governador, é preciso esperar mais. “Não estamos pensando em um nome, pensamos em um projeto para Goiás. Qual o projeto que vamos apresentar e qual o candidato se encaixa melhor nele? Vamos começar a costurar agora e ver se todos concordam. Se concordarem, a candidatura alternativa será viável. O projeto tem que ser maior que o nome. O nome tem que ter condições de levar o projeto à frente. O grupo tem consistência muito grande e temos condições de avançar”, concluiu Mabel.