moldura geral foto historica 03

Hoje Notícias - Política - Dia 04/12/1009

 

 

Sob pressão de manifestantes e com nove dos 24 integrantes da Câmara Legislativa envolvidos no escândalo do mensalão, os deputados distritais alegaram insegurança para evitar aparecer na Casa. A escolha de um novo corregedor para dar seguimento ao processo de quebra de decoro por parte de nove parlamentares ficou adiada para terça-feira.

Cerca de 50 manifestantes passaram a noite na Câmara. Assim que amanheceu, no entanto, o número foi crescendo. No início da tarde já havia cerca de 100. Depois de uma reunião com a Mesa Diretora da Casa, o grupo deixou o plenário e se concentrou nas galerias e nos corredores, esperando a eleição do novo corregedor. O atual, Júnior Brunelli (PSC), é um dos que aparecem recebendo dinheiro no mensalão do Distrito Federal e, inclusive, lidera a oração pelo bem-estar do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, que fazia o pagamento.

O presidente interino da Casa, Cabo Patrício (PT), chegou a abrir a sessão, para fechá-la em seguida por falta de quórum. "Aos manifestantes que estão na galeria queria avisar que os parlamentares anunciaram que não vêm à Casa por que não se sentem seguros", disse Patrício. Em seguida, o grupo voltou para o plenário. Dessa vez, de forma organizada e pacífica, chegaram a esperar pela autorização dos seguranças. "Nós garantimos todas as condições para que eles trabalhassem. Só não garantimos impunidade para eles fazerem o que quiserem aqui escondidos. Se for para eles trabalharem nós sairemos do plenário, mas não vão ficar aqui num castelo fechado", disse Paíque Duque Lima, um dos líderes do movimento.

Formado basicamente por estudantes universitários e do ensino médio, os ocupantes da Câmara Legislativa têm experiência de movimentos do tipo. Boa parte participou da ocupação da reitoria da Universidade de Brasília, em abril deste ano, que terminou com a saída do então reitor Timothy Mulholland, acusado de desvio de verbas. De lá veio até mesmo um caixão que, à época, serviu para "enterrar" o reitor. Agora foi a vez do governador José Roberto Arruda (DEM).

Mas, se os estudantes são os que passaram a noite, durante o dia o grupo é reforçado por pessoas de todos os tipos. Passaram por lá ontem conselheiros tutelares, que protestaram porque o governo não empossa os novos conselhos. Também apareceram policiais militares. Sem uniforme e se escondendo das câmeras, foram apoiar o movimento. "Só não podemos aparecer porque pode ter represálias, mas queremos a saída do governador", disse um deles, enquanto seus colegas fardados faziam a segurança do lado de fora. (Agência Estado)

"DEM DEVE DAR O EXEMPLO"

O senador Demóstenes Torres voltou a afirmar que gostaria que o DEM tivesse expulsado o governador José Roberto Arruda dos seus quadros, logo após a divulgação dos primeiros dados sobre o escândalo. Para Demóstenes, o partido deveria ter dado exemplo de intolerância à corrupção, sob pena de ter prejuízo eleitoral em 2010. "A minha proposta era pela expulsão sumária. Expulsava e depois abria o direito de defesa", disse, sobre a ideia, rejeitada na reunião de terça-feira.

Segundo o senador democrata, a gravidade da situação que envolve o único governador eleito pelo DEM em 2006 justificaria uma ação mais forte do que o prazo de dez dias dado a Arruda para tentar se justificar. "É uma situação de muita dificuldade, as imagens (veiculadas na TV) são muito contundentes", citou. "Politicamente, o partido não pode tolerar que ele fique", reforçou.

A preocupação de Demóstenes é que uma reação branda da legenda a iguale, no seu ponto de vista, a outros partidos que indicaram tolerar deslizes de seus filiados. "O que não pode é fazer como outros partidos que deixaram delinquentes dentro da legenda e que contaminaram todo o processo de credibilidade", sugere. "Ou o partido age decentemente  e  toma uma posição firme, contundente, ou então nós vamos seguir o caminho da vala comum, ficar igual a todo mundo", alerta.

Ante a possibilidade de os partidos rivais do DEM, como o PT, acusarem a sigla de não ter mais propriedade para falar contra a corrupção, o senador aumenta a carga crítica. "Se o partido agir como o PT, o PT está certo. Se expulsar aquele que maculou a imagem, que cometeu crime, aí a coisa é diferente", defende.

Demóstenes lembra que o PT, primeiro partido acusado a manter um esquema de "mensalão" no governo, em 2005, não disciplinou à altura seus membros acusados de participação no ato de corrupção. "O PT segurou todo mundo dentro do partido. Tem aí gente cumprindo missão, gente que foi reeleita. O único que pagou o pato foi o Delúbio, enquanto havia pelo menos uns 200 envolvidos", acusa. (Mirelle Irene)

Lei pode beneficiar Arruda

As evidências da prática de caixa dois na campanha do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), em 2006, de nada valem para a Justiça Eleitoral. Isso porque uma lei aprovada este ano pelo Congresso estabelece prazo exíguo para a denúncia contra o candidato eleito por financiamento ilegal de campanha. Pelo texto, Arruda só poderia ser punido pelo caixa dois se o caso tivesse chegado à Justiça nos primeiros 15 dias do seu mandato. Como a denúncia só foi feita agora, passados quase três anos de governo, já estaria prescrita.

Mas ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) discutem em que momento o político eleito pode ser punido com a cassação do mandato por financiamento ilegal da campanha. (AE)

endereco 00