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O Popular - Economia - Dia 06/12/2009


Para segurar a disputada mão-de-obra, empresas oferecem cada vez mais benefícios aos trabalhadores

Lúcia Monteiro

Valmir e José, no canteiro de obras: condições de trabalho são melhoresCafé da manhã e almoço em refeitórios no sistema self- service, espaço para descanso e lazer dentro do canteiro de obra, tratamento médico e odontológico para o trabalhador e suas famílias, salários bem acima do piso da categoria e capacitação profissional. Tudo isso as empresas do setor da construção civil estão oferecendo para atrair e segurar os operários em seus canteiros de obra. Com o reaquecimento do mercado imobiliário, esses profissionais estão mais disputados e são recrutados até por construtoras de Brasília, que procuram trabalhadores em Goiânia oferecendo melhores salários.

De janeiro a outubro deste ano, dos 63.903 novos empregos gerados no Estado, 9.249 postos foram abertos somente pelo setor da construção civil, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. O problema é que a oferta de mão-de-obra não acompanha a velocidade dos empreendimentos lançados. Hoje, a maior carência é por pedreiros, carpinteiros e armadores. Só no Sine Goiás, existem quase 400 vagas para pedreiro à espera de candidatos qualificados para a função.

Para reduzir o déficit, as empresas estão qualificando os interessados dentro dos próprios canteiros de obra. Eles começam como serventes e, depois de um ou dois anos de treinamento, são promovidos para funções como carpinteiro e armador. "Até sugerimos aos atuais trabalhadores que convidem parentes e amigos para aprenderem uma função na obra", revela o presidente do Sindicato da Indústria da Construção em Goiás (Sinduscon-GO), Roberto Elias Fernandes.

Salários melhores

Enquanto empresas de Brasília recrutam mão-de-obra em Goiânia, alguns trabalhadores fazem o caminho inverso. É o caso do armador José Nazareno dos Santos, que começou na Dinâmica Engenharia como servente e, depois de promovido, veio trabalhar em uma obra de Goiânia, trouxe a família e não quis mais voltar para a capital federal. "O custo de vida lá é muito alto, apesar do salário ser melhor", justifica. Hoje, José Nazareno é mais valorizado e ganha por produção: ele tem um salário mensal de cerca de R$ 1,5 mil, mais que o dobro do piso da categoria, que é R$ 655,60. "Vou continuar aprendendo. Quero chegar a mestre-de- obras", diz.

Valmir Martins da Silva também começou como servente e foi promovido a carpinteiro há três meses. Hoje, tem um salário mensal de R$ 1,2 mil. Atualmente, ressalta, a realidade dos canteiros de obra é outra e que se sente mais valorizado no mercado de trabalho. "Antes, a gente comia uma marmita sentado em qualquer canto da obra", lembra Valmir.

 

O tempo das marmitas ficou para trás. A primeira medida tomada pela empresas foi melhorar o ambiente dos canteiros de obra, que ganharam refeitório com duas refeições (café-da-manhã e almoço), vestiário com armários individuais, salas de aula para cursos de alfabetização e profissionalização com biblioteca, salas de informática e mesas de jogos.

Hoje, conforme Roberto Elias, praticamente nenhum trabalhador ganha somente o piso da categoria, pois eles recebem gratificações e adicional por produtividade. Um mestre-de-obras já ganha entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil, mais que muitos profissionais de categorias de nível superior.

Ao mesmo tempo, profissionais mais qualificados passaram a ficar mais exigentes, bem como a reivindicar melhores condições salariais.

Empresas oferecem alfabetização, espaço para inclusão digital e lazer

Lúcia Monteiro

Quem visita um canteiro de obra hoje percebe uma mudança nas condições de trabalho na construção civil. A Dinâmica Engenharia investe até num projeto de inclusão digital dos trabalhadores, em parceria com o Senai. Na sala de aula do canteiro, eles estudam desde a alfabetização até o 2º grau. Nas horas de lazer, contam com uma pequena biblioteca para leitura e mesas de sinuca, pebolim e dominó. Durante cerca de três meses do ano, um trailer odontológico fica estacionado no canteiro para atender os trabalhadores e familiares.

O resultado é a redução da rotatividade. Apesar da dificuldade para conseguir carpinteiros e pedreiros para revestimento em Goiânia, o diretor comercial da Dinâmica Engenharia, Mário Valois, acredita que as empresas de Brasília têm muito mais problemas para conseguir mão-de-obra. "Com Águas Claras e o bairro Noroeste, eles têm o maior canteiro de obras do Brasil".

Para o diretor técnico da construtora TCI Inpar, Marco Antônio de Castro Miranda, o assédio de trabalhadores goianos por empresas de Brasília é uma realidade relatada pelos coordenadores de obra, resultado de um mercado repleto de lançamentos depois do reaquecimento econômico. Para evitar a evasão, cresceram os investimentos em qualificação da mão-de-obra, salários melhores e benefícios. "Hoje, um bom carpinteiro chega a tirar R$ 1,8 mil", destaca.

Rotatividade

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e Mobiliário de Goiânia (Sintracon), Patrocínio Braz Concentino, lembra que o segmento sempre foi caracterizado pela alta rotatividade da mão-de-obra. Segundo ele, a migração existe não apenas para Brasília, mas também para o Mato Grosso e até São Paulo. Patrocínio não acredita na existência de muitas vagas em aberto atualmente por falta de qualificação. "As empresas estão qualificando o trabalhador dentro do canteiro. Hoje, existe trabalho para quem quiser trabalhar", garante.

Apesar dos avanços, ele acredita que ainda há muito o que melhorar. "Quem ganha por produtividade precisa trabalhar muito mais para ter um bom salário, o que pode comprometer a saúde", adverte. Por isso, para ele, o melhor caminho é melhorar os baixos pisos da categoria.

 

Com a demanda, mão-de-obra mais qualificada fica mais exigente

Lúcia Monteiro

Para a gerente de Recursos Humanos da Toctao Engenharia, o maior assédio sentido atualmente não vem de empresas de Brasília, mas de obras vizinhas a empreendimentos como o La Residence Visionaire, no Parque Flamboyant, que está em fase de acabamento. Mas ela garante que a empresa tem conseguido manter seu quadro de funcionários oferecendo, além dos salários, benefícios como plano de saúde, pagamento extra por produtividade e restaurante self service.

O diretor de Produção da Loft Construtora, Gustavo Veras, reclama da falta de mão-de-obra qualificada. "Com a grande oferta, os profissionais querem trabalhar menos e ganhar mais", diz. Para o engenheiro da construtora, Glauco Carneiro do Prado, o problema é que uma parte do pessoal que começa a trabalhar numa obra só vai porque não está ocupado no momento. "Eles só vão enquanto esperam algo melhor. Não querem seguir carreira. Para eles, é algo provisório", explica.

Glauco Carneiro explica que uma estratégia usada pela empresa é avaliar o compromisso dos funcionários todo mês. "Aqueles que têm mais qualificação sempre são gratificados com um bônus salarial", destaca o engenheiro.

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