Diário da Manhã - Política e Justiça - Dia 10/12/2009
Presidente diz que é preciso fazer um "check-up" anual na administração pública para tentar identificar desvios
Lula: "Corrupto é o cara que tem a cara mais de anjo, é o que mais fala contra a corrupção, porque acha que não vai ser pego"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o projeto de lei do governo que torna hediondos crimes de corrupção cometidos por "altas autoridades públicas" tem como objetivo combater a "safazeda" realizada com dinheiro público no País. Ao discursar na cerimônia do Dia Internacional de Combate à Corrupção, Lula disse que prefere "manchetes de jornais" que denunciam desvios de dinheiro público ao silêncio sobre os crimes, para que o governo possa combatê-los.
"Não é a única saída, mas é mais um degrau na escalada de combate à safazeda com dinheiro público nesse País. (...) Pode ser que (o projeto) não resolva, mas se o Congresso aprovar, pelo menos a gente começa a passar à sociedade que não existe a ideia da impunidade", afirmou. Lula disse que 90% dos brasileiros acreditam na impunidade de políticos corruptos porque prevalece no Brasil a cultura de que "o cara que rouba pãozinho vai preso, e o que rouba R$ 1 bilhão não vai preso".
Na opinião do presidente, a administração pública deve fazer um "check-up" anual para tentar identificar ações de corrupção, já que muitos corruptos têm "cara de anjo" e não dão sinais de que estão desviando recursos públicos. "Acho que o trabalho que estamos fazendo é quase como fazer check-up. O corrupto é o cara que tem a cara mais de anjo, é o que mais fala contra a corrupção, o que mais denuncia, porque acha que não vai ser pego. Esse é o problema da bandidagem, o cara sempre acha que vai dar no outro, ele vai ser impune, só que às vezes a arapuca pega o seu passarinho."
Comparou a corrupção às drogas, que podem estar dentro das famílias sem que elas tenham conhecimento do seu poder destrutivo. "A corrupção é como a droga. Um pai vê na TV um adolescente pego com droga, ele acha que é só o filho dos outros. Às vezes o filho dele está queimando um baseadinho no quarto, e ele não sabe. A corrupção é assim, às vezes está dentro da sua casa e você não sabe."
Lula elogiou a Polícia Federal e o Ministério Público pelas ações de combate à corrupção, mas disse que as instituições devem agir "sem exagero", uma vez que "todo ser humano é inocente até que se prove o contrário". No discurso, não mencionou recentes denúncias de corrupção na administração federal nem o escândalo do mensalão do DEM no Distrito Federal. Mas disse que prefere "manchetes de jornais" que denunciam escândalos do que o silêncio sobre o tema corrupção. "Nós precisamos motivar as pessoas que sabem a denunciar. Porque a punição tem que ser para o corrupto e para o corruptor. A moeda não tem só um lado, ela tem dois. Eu prefiro manchete que saia para que a gente possa investigar, do que não saia e a gente não saiba que está sendo roubado nesse País", afirmou.
Críticas
Lula criticou a ação de especuladores internacionais que, na sua opinião, também contribuem para desvios de recursos públicos em todo o mundo. "Quantos bilhões dos cofres públicos dos países ricos tiveram que colocar no sistema financeiro que quebraram por especulação? E o dinheiro para salvar os povos pobres do mundo apareceu para salvar os banqueiros. Se não aumentarmos a punição para essa gente, vamos continuar enchendo a cadeia de pobres."
O presidente disse que vai levar à reunião do G-20 (países mais ricos do mundo) a discussão sobre o sistema financeiro internacional. "As pessoas não querem discutir isso, porque você está mexendo com interesses de gente que tem bala na agulha, você não está mexendo com o baixo clero, mas com o alto clero."
Projeto
Lula decidiu encaminhar ao Congresso projeto de lei que torna hediondos os crimes de corrupção no país quando cometidos por "altas autoridades" da administração pública federal, estadual e municipal. O objetivo do governo, segundo o ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União), é considerar como crimes hediondos a corrupção ativa, passiva, a concussão e o peculato - com o aumento das penas para os agentes públicos que cometerem essas irregularidades.
Ao ser classificada como crime hediondo, a corrupção passa a ser inafiançável quando cometida por autoridades do primeiro escalão. Se o crime for de responsabilidade de servidores públicos que não ocupam cargos de alto escalão, o projeto não prevê que seja tornado hediondo.
A proposta, porém, estabelece penas maiores para os crimes de corrupção, aumentando o tempo de prisão temporária para aqueles que desviarem recursos da administração pública.
Petista sugere compra de panetones e arranca risos
O presidente Lula fez piada ontem da crise enfrentada pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), suspeito de participar de esquema de pagamento de propina a aliados na Câmara Legislativa do DF. Ao final da reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), no Itamaraty, o presidente sugeriu aos presentes na reunião que comprassem quantos panetones quiserem neste Natal.
"Eu quero que vocês comprem todos os panetones que quiserem comprar, passem um Natal o mais tranquilo possível com as suas famílias. Os ministros vão descansar um pouco. Mas no ano que vem se preparem, porque no ano que vem nós, em vez de comemorar, em vez de ficar comemorando, nós vamos ter que trabalhar um pouco mais para que os trabalhadores melhorem", disse Lula, que arrancou risos da plateia.
O presidente se referiu, indiretamente, à justificativa de Arruda para a gravação em que aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa - que colaborou com a PF e é apontado como o operador do esquema de corrupção no DF. Segundo o governador, o dinheiro foi arrecadado por empresários e políticos para a compra de panetones e brinquedos para serem distribuídos a crianças carentes no Natal. Em entrevista à reportagem na semana passada, Arruda reforçou a tese de que os recursos foram aplicados em ações sociais. Fonte: Da folhapress, de Brasília