O Popular - Coluna da Cileide Alves - Dia 15/02/2010
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Goiânia, sexta-feira, não teve a mesma força política de sua visita anterior, em agosto. Desta vez, o presidente conseguiu se conter para evitar que “fosse mal-interpretado”, mas mesmo assim houve significativas mexidas em peças do tabuleiro político provocadas direta ou indiretamente por sua visita.
O movimento começou na véspera de sua viagem. A iniciativa do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de anunciar sua desistência de disputar o governo de Goiás na quinta-feira foi o maior presente que o prefeito Iris Rezende poderia receber de Brasília.
Meirelles conversou por telefone com o prefeito pela manhã; à tarde falou com o presidente Lula e novamente telefonou para Iris comunicando sua decisão antes de receber, às 16 horas, as equipes do POPULAR e da TV Anhanguera para a entrevista, na sede do Banco Central em Brasília, na qual anunciou sua decisão.
Sem Meirelles no páreo, o evento do dia seguinte caminhava para se transformar em uma festa particular do prefeito de Goiânia. A entrevista exclusiva do presidente Lula ao POPULAR, publicada na sexta, reforçava essa idéia. Ele defendeu a união entre PP e PMDB para reproduzir regionalmente o que chamou de um “campo perfeitamente delimitado e unificado em todos os níveis” em “defesa de uma plataforma que combinasse o local com o nacional”.
Se Iris é o candidato natural do PMDB no pós-Meirelles, se até o momento o governo não lançou candidato competitivo para disputar o governo e se Lula quer formar em Goiás a mesma base partidária que sustentará a candidatura de Dilma Rousseff a presidente da República, a festa, então, estava para o prefeito. Parece que, por isso, Lula colocou o pé no freio.
Iris já tinha bons motivos para, desta vez, estar feliz com o presidente, diferentemente do que ocorreu em agosto, quando, ao elogiar Meirelles e não citar o prefeito uma única vez, Lula tinha dado a impressão de preferência pela candidatura de seu auxiliar em detrimento do projeto eleitoral do prefeito. Agora, com participação de Lula, Meirelles deixava o caminho livre para ele.
Já foi muito e Iris parece que entendeu que não era o momento de forçar a barra. O prefeito foi cauteloso na entrevista que concedeu durante a visita e um dia depois do anúncio de Meirelles: “Não decido candidatura sozinho”, disse, sem assumir que já é candidato.
Em paz com o PMDB, o problema para Lula desta vez poderia vir do Palácio das Esmeraldas. A defesa da união feita pelo presidente poderia constranger o governador Alcides Rodrigues (PP). Afinal ainda é grande a resistência em sua base partidária a uma aliança com o PMDB em função das disputas históricas entre os dois partidos: o primeiro nasceu das costelas da antiga UDN e o segundo tem origem no PSD, dois ferrenhos adversários.
No pouco em que falou sobre política goiana, Lula tentou agradar os dois lados: “Se vai ser o Iris eu não dou mais palpite, nós vamos ser todos aliados. Se o Alcides acha que tem que ter uma terceira candidatura eu também não dou palpite”, disse Lula, pedindo apenas para seus aliados “encontrarem uma fórmula” para não deixar “o passado voltar”, numa referência ao PSDB, seu principal adversário nacional.
Esses fatos obrigaram a frente governista a reagir. A reunião do PP, PR, DEM e PSB na manhã de sábado no Palácio das Esmeraldas, convocada às pressas no dia anterior, pretendeu não apenas reorganizar o grupo que desde outubro tenta, sem conseguir avançar, formar uma frente partidária, mas, principalmente, mandar um recado para suas bases.
A frente tem duas coisas urgentes a fazer: construir o prometido projeto político-eleitoral e segurar essas bases. Se não der garantias de que terá candidato próprio, ou seja, se não oferecer perspectiva de poder, não conseguirá impedir que suas lideranças avancem em direção à candidatura do senador Marconi Perillo, por enquanto, a única opção antipeemedebista.
Para se manter de pé, a tarefa mais urgente desse grupo é impedir a adesão ao tucanato, o que seria impossível com o esvaziamento que vinha ocorrendo por razões que vão desde a falta de ações políticas concretas do governo, passa pelo enfraquecimento do secretário Jorcelino Braga, em função da denúncia envolvendo sua filha, até pelo fortalecimento da candidatura de Iris Rezende.
Na ausência do governador Alcides, que comanda missão comercial no Leste Europeu pelos próximos 14 dias, PR, DEM, PP e PSB vão enfrentar o desafio de convencer seus parceiros de que têm um projeto eleitoral pra valer e impedir a dispersão em sua base. Para isso, terão de adotar ações políticas concretas, pois agora mais difícil do que construir uma candidatura – e olha que isso já é uma tarefa e tanto – será convencer que não está blefando.
O PP parece o mais animado de todos os parceiros com esse projeto, pois é o único que corre o risco de ficar sem alternativa eleitoral caso não apresente um candidato. DEM e PR têm para onde ir, o que não ocorre com o PP: não pode nem voltar para o PSDB nem caminhar em direção ao PMDB. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.