O Popular - Coluna da Cileide Alves - Dia 07/12/2009
CILEIDE ALVES
Cileide Alves
O escândalo envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), acusado de comandar um esquema de arrecadação de propina de empresas que prestam serviços ao governo, e a internação do prefeito Iris Rezende (PMDB), que se submeteu a uma cirurgia para retirada da vesícula e para uma desobstrução intestinal, propiciaram o surgimento de sombras sobre o processo eleitoral no Estado.
O mensalão de Brasília liquida um importante aliado do senador Marconi Perillo (PSDB) no Entorno do Distrito Federal, onde está concentrado cerca de 30% do eleitorado goiano, com capacidade, portanto, para definir o resultado de uma eleição. A situação só não é pior para Marconi, porque ele tem visibilidade própria na região, mas exigirá a redefinição de sua estratégia, já que a anterior concentrava-se basicamente em uma campanha casada com a de Arruda, que, apesar de sua resistência em aceitar a nova realidade pós-escândalo, já não tem mais condições políticas nem de concluir seu mandato, que dirá de disputar a reeleição.
O PMDB passou a semana minimizando as conseqüências políticas da moléstia que levou o prefeito Iris Rezende duas vezes ao hospital na semana passada, a segunda para se submeter à cirurgia. O partido tomou por base o diagnóstico de seu estado de saúde e a própria recuperação do prefeito, que ontem deixou o hospital. Aparentemente, o partido está correto: os problemas de saúde enfrentados pelo prefeito na semana passada, de acordo com os relatos da equipe médica, não deverão ser empecilho para ele entrar no processo eleitoral.
No entanto, há outra faceta desse episódio que deve ser considerada: o efeito emocional que ele causará no próprio Iris, uma pessoa acostumada a guiar suas decisões políticas também pelos sinais que capta dos episódios que o envolvem. O período de convalescência e o contato mais próximo com a família lhe propiciarão uma reflexão mais aprofundada e sua percepção desses dias de reclusão involuntária poderá, sim, ter reflexo na definição da chapa peemedebista.
As sombras sobre o projeto político do governo são anteriores às que encobrem o céu tucano e peemedebista. Elas ofuscam a percepção, por parte de seus próprios parceiros, sobre a motivação da ação do Palácio das Esmeraldas na construção da chapa alternativa aos dois polos liderados por Iris e Marconi. Não há dúvida sobre a disposição do governador em lançar chapa própria. Isso já está claro. A dúvida é agora é outra.
O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) é um exemplo dessa incerteza. O deputado é um dos maiores defensores da chapa governista. Ele acredita que o eleitorado está aberto a avaliar uma proposta diferenciada da apresentada por esses polos que tradicionalmente se enfrentam nas eleições goianas. Observa que nunca antes na história de Goiás, para usar um chavão lulista, um governador deixou de lançar candidato próprio para sua sucessão - antes que lhe lembrem do caso do governador Henrique Santillo, que em 1990 não apoiou nenhum dos candidatos, ele observa que a força política do governo na época, o PMDB, participava da eleição e que apenas Santillo ficou de fora. Caiado tem fé, portanto, que essa regra se repetirá, ou seja, que Alcides lançará mão da estrutura política que comanda para construir uma chapa competitiva.
O deputado, no entanto, espera uma ação política menos passiva da parte do governo. Sabe que uma chapa não brota sozinha, mesmo da forte estrutura governista, e que ela precisa de ação política para nascer e crescer. Em outras palavras, que o governador seja pró-ativo. O senador Demóstenes Torres, aliado de Caiado na disputa interna no DEM, já manifestou sua preferência por seguir na aliança com Marconi na próxima eleição, porque acha que Alcides perdeu o prazo para construção de uma candidatura competitiva, mas aceita esperar o tempo que ainda resta ao governo para essa construção.
Caiado é menos cético e ainda acredita (talvez o verbo melhor neste caso seja torcer) que o governo vai agir, promovendo reuniões no interior, mobilizando as bases partidárias, enfim, criando as condições políticas que ainda faltam. Só que se prepara para outra possibilidade. Mesmo o maior defensor da despolarização da política goiana não entrará num projeto político que tenha como meta exclusivamente a derrota de Marconi, hoje o principal adversário do Palácio das Esmeraldas.
Aliás, o que motiva líderes partidários, mesmo incluindo os que têm em comum pendências políticas a acertar com o senador tucano, é a construção de um projeto político, não meramente a desconstrução de outro. Afinal, todos têm ambições políticas futuras, o que obviamente exclui uma atitude política kamikaze. Uma frase que Caiado costuma repetir em conversas com aliados resume bem essa disposição: "Não podemos render homenagem ao suicídio." No caso dos governistas, está nas mãos do Palácio das Esmeraldas a remoção das sombras sobre seu projeto político.